quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O carnaval é um grito de liberdade...

Nunca fomos catequizados. Fizemos foi o Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses
Oswald de Andrade

O carnaval sempre foi algo que rondou o imaginário brasileiro. Afinal, “nossa carne é de carnaval, o nosso coração é igual”. Mas de onde vem esse fetiche? Não é a única grande festa popular do mundo ou do Brasil. Durante todo o ano, também se toca samba, frevo, axé. Como evento em si, o carnaval não tem nada de mais. O que tem de tão magnético no carnaval é a sua capacidade de ser um fenômeno de liberdade.
Uhul é Carnaval!
Não me diga mais sobre problemas!
Amanhã tudo volta ao normal.
Deixa a festa acabar,
Vamos curtir,
Deixa o barco correr.
Deixa o dia raiar, que hoje eu sou
Da maneira que você me quer.
O que você pedir eu lhe dou,
Só que não,
Seja você quem for,
Seja o que Deus quiser!
O carnaval permite a todos nós brasileiros cantar a jardineira até a quarta-feira de cinza e muito mais. Nos deixa ser o que quisermos e não sermos (completamente) julgados por isso. Isso é importante em uma sociedade cujas relações sociais não são baseadas na impessoalidade e que o fenômeno do “sabe com quem você está falando?” é ainda algo corrente. O carnaval, entre uma marchinha e outra, joga uma cortina de fumaça nessa sociedade hierárquica e permite que o rico e o pobre dancem na mesma avenida, o carnaval “é o acontecimento religioso da raça”
Essa interpretação, é claro, não é minha. Ele já existe no pensamento social brasileiro a algum tempo e está sendo, recentemente, motivo de um intenso debate e questionamentos. 
O que se vive em nossa política, cria um vazio de heróis nacionais políticos ou militares, e paradoxalmente uma visão messiânica da política, como o que levará o país a redenção. Além disso, essas múltiplas redes de poder levaram a uma sociedade muito consciente das distintas relações de micro poder, da prática de carteiradas, de sobrenomes, de coronéis. Essa visão de mundo é antagônica com uma sociedade calcada em valores liberais e favorável ao livre-mercado e a livre iniciativa. Primeiro, uma sociedade que o ‘você sabe com quem você está falando?’ é a regra e não a exceção rejeita a base da igualdade formal perante a lei, uma das bases do liberalismo. Segundo, um país em os meios para o sucesso são ter o sobrenome certo e não o quanto de valor você retorna para a sociedade.
Em suma, uma sociedade não inclusiva e coletivista que vai de encontro a uma manifestação da plena individualidade com um mosaico de identidades e valores. E é isso que o carnaval, cantando a vassourinha conseguimos em um passo de frevo mostrar toda a exuberância de cada individualidade. O carnaval nos fazendo ser heróis e malandros, nem que seja só por três ou quatro dias. 
Por isso, entre nessa onda, esse frevo é bom demais!

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